Dor
Era noite e eu esperava que ela me cegasse, que tirasse o que castigava minhas costas. Mas meus olhos já vermelhos não descansaram, eles estavam cheios de uma imagem só: a dor. A dor que você quando se foi, me deixou. Não era uma dor qualquer, ela dilacerava meu coração, os batimentos já tão baixos ficaram lentos e me incomodavam, invadiam meus ouvidos como um tique-taque prestes a acabar. A noite ficou longa e o vento que surrupiava era o único som. Eu estava só. Não só o bastante para poder rasgar meu corpo, já tão ferido, e tirar aquilo que me fazia sangrar, pois aquilo era minha companhia. As horas passavam e eu não consegui sair dali, daquele calçada, daquela rua deserta. Meus olhos não fechavam, como um vício. O passado de nós dois era meu passe para a noite em claro, a dor se acalmara dentro do meu peito, minhas costas já estavam leves o bastante para poder me esticar e não sentir a pontada em meu peito. Eu sorri em meio a escuridão, viajei nas minhas lembranças...